Sérgio
Sant’Anna é um escritor brasileiro, e, embora já tenha publicado poesia, peças
de teatro, novelas e romances, se considera primeiramente como contista.
A
obra de Sérgio Sant'Anna é de difícil classificação, transgressor
contumaz, ele vem desde a década de 1960 testando os limites da prosa, dos
gêneros, e da própria ideia de literatura. Seus romances, contos, poemas,
novelas e peças de teatro romperam tradições e derrubaram barreiras entre alta
e baixa cultura, entre popular e erudito, numa linguagem descarnada tão
reconhecível quanto escorregadia, que influenciou inúmeras gerações de
escritores.
Nasceu no Rio de Janeiro, em 1941, iniciando a sua carreira de escritor em
1969, com O sobrevivente, livro de contos que o levou a participar do
International Writing Program da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos. Teve
obras traduzidas para o alemão e o italiano e adaptadas para o cinema, foi
premiado quatro vezes com Jabuti, mais recentemente por O voo da madrugada(2003),
que recebeu também o prêmio APCA e o segundo lugar no prêmio Portugal Telecom
de literatura.
Publica
agora “O Homem-Mulher”, um livro de contos mas também de outros textos, configurando a ideia de que o autor, apesar da
explícita vocação experimental, Sant'Anna sempre foi também autor de prosa
acolhedora, cujo interesse parece residir não em alienar o leitor, mas, ao
contrário, em incluí-lo nos intricados e deliciosos jogos literários que
concebe.
É o
caso da história em que o protagonista se apaixona pela vendedora de lencinhos
que junta dinheiro para o tratamento de câncer do marido. Em meio à alta carga
erótica da trama, o conto também se revela delicado como os produtos da garota.
Ou, então, do magistral e imediatamente antológico 'Eles dois', que narra, com
força cinematográfica, a história de um casal morando num casarão nos anos
1970.
A
inspiração do escritor Sérgio Sant’Anna não nasce da palavra, mas especialmente
da imagem.
Fascinado
pelos trabalhos Tangseng e Yaojin, do chinês Li Zhang Yang, ele retornou cinco
vezes à mostra que expunha as obras para melhor admirá-las, “Fiquei apaixonado.
Yang consegue uma perfeição que o papel não atinge. Eu sabia que, desde que vi
a obra, teria que escrever sobre ela.” Dessa admiração, nasceu o conto Amor a
Buda, um dos 19 que compõem o livro O Homem-Mulher.
Como
poucos autores, Sant’Anna transporta com precisão para o papel suas
inquietações que, de tão diversas, provocam o nascimento de contos tão
díspares, é o caso, por exemplo, dos que inspiram o título do livro, justamente
o primeiro, mais curto, e o último, quase uma novela.
Neles,
Sant’Anna parte do mesmo princípio, a decisão de um rapaz de se vestir com
roupas femininas sem que, com isso, perca sua masculinidade. “O cross-dressing
sempre me fascinou e intrigou. Fiz pesquisas na internet, procurei entender as
razões, por exemplo, do (cartunista) Laerte em fazer isso. O cross-dresser é um
das figuras mais enigmáticas da sexualidade atual e, como não entendo a
psicologia disso, criei uma obra em aberto”, explica ele que, por desconhecer,
não faz julgamento, o que traduz em um frase simples, porém, esclarecedora: é
apenas um modo de ser.
Sant’Anna,
na verdade, não se preocupa com o visível, o real, mas com sentimentos, por
isso que seus personagens, em todos os cantos, estão em busca de um sentimento
que os complete e os conforte. E a narrativa dessas viagens é carregada de
erotismo, o sexo revela-se o principal (e, muitas vezes, único) conforto no
enfrentamento das mazelas.
O
contista volta ainda a refletir sobre a própria técnica, no texto O Conto
Maldito e o Conto Benfazejo. Como já fizera em O Conto Abstrato e O Conto
Obscuro, publicados em outros livros, Sant’Anna investe, dessa vez, no âmago da
linguagem, criando uma linhagem para estilos de um gênero de fôlego curto, mas
de grande impacto. “Em tudo, faço uma reflexão da alma humana”, observa. “E,
para isso, não me importa o caminho seguido pelo conto, que tanto pode terminar
com uma explosão como com uma esperança, uma abertura.”
Sem
dúvida o livro de contos "O Homem-mulher", é uma perfeita porta de entrada para a vasta, rica e obra memorável de Sérgio Sant'Anna
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