Publicado
originalmente em 1958, “A menina do mar” é uma obra-prima de Sophia de Mello
Breyner Andresen (1919-2014).
O
livro, um dos mais conhecidos para crianças em Portugal, conta a história de um
menino que mora na praia e, um dia, ouve uma estranha gargalhada, que mais
parece ter vindo de baixo d’água.
Ao
seguir o som desconhecido, se depara com uma cena curiosa, uma menina, pequena
e de cabelos azuis, dança com um polvo, um caranguejo e um peixe.
Desse
encontro nasce uma amizade que supera a diferença entre os dois mundos, a terra
e o mar.
Ela
vive no mar, e é bailarina da "Grande Raia", uma rainha dos
mares, que sobre ela mantém vigilância, não a deixando realizar o seu sonho de
conhecer a terra firme, onde mora o rapaz. Além disso, a menina não consegue
sobreviver longe da água, pois, fica desidratada, ainda que consiga respirar
dentro e fora de água. O rapaz, com que estabelece amizade, tem o desejo de
conhecer o fundo do mar. A história desenrola-se com a tentativa dos dois em
realizar os seus sonhos.
Cada
um ensina ao outro as particularidades do seu lugar de origem, até que o menino
a mostra uma importante lição, o que é a saudade.
A
edição agora publicada no Brasil pela editora Cosac Naify, coma ilustração de
Veridiana Scarpelli, joga com as cores para representar o encontro dos dois
universos, colorindo em azul a paisagem que era marrom como a terra antes da
chegada da Menina do Mar.
Um
livro para crianças a para adultos.
“Era
uma vez uma casa branca nas dunas, voltada para o mar. Tinha uma porta,
sete
janelas e uma varanda de madeira pintada de verde. Em roda da casa havia
um
jardim de areia onde cresciam lírios brancos e uma planta que dava flores
brancas,
amarelas e roxas.
Nessa
casa morava um rapazito que passava os dias a brincar na praia.
Era
uma praia muito grande e quase deserta onde havia rochedos maravilhosos.
Mas
durante a maré alta os rochedos estavam cobertos de água. Só se viam as
ondas
que vinham crescendo do longe até quebrarem na areia com barulho de
palmas.
Mas na maré vazia as rochas apareciam cobertas de limo, de búzios, de
anémonas,
de lapas, de algas e de ouriços. Havia poças de água, rios, caminhos,
grutas,
arcos, cascatas. Havia pedras de todas as cores e feitios, pequeninas e
macias,
polidas pelas ondas. E a água do mar era transparente e fria. Às vezes
passava
um peixe, mas tão rápido que mal se via. Dizia-se «Vai ali um peixe» e
já
não se via nada. Mas as vinagreiras passavam devagar, majestosamente,
abrindo
e fechando o seu manto roxo. E os caranguejos corriam por todos os
lados
com uma cara furiosa e um ar muito apressado.
...
Com
muito cuidado para não fazer barulho levantou-se e pôs-se a espreitar
escondido
entre duas pedras. E viu um grande polvo a rir, um caranguejo a rir,
um
peixe a rir e uma menina muito pequenina a rir também. A menina, que
devia
medir um palmo de altura, tinha cabelos verdes, olhos roxos e um vestido
feito
de algas encarnadas. E estavam os quatro numa poça de água muito limpa
e
transparente toda rodeada de anêmonas. E nadavam e riam.
- Oh!
Oh! Oh! - ria o polvo.
-
Que! Que! Que! - ria o caranguejo.
-
Glu! Glu! Glu! - ria o peixe.
Ah!
Ah! Ah! - ria a menina. “
(“A
Menina do Mar” de Sophia de Mello Breyner Andresen)
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